Sempre fui uma ávida leitora de policiais. Comecei com Agatha Christie, no original, para praticar o meu inglês. Tornei-me sócia da biblioteca da British Council para poder continuar a ler os autores de que gostava nas suas versões originais. Depois, com a mudança para Londres, tudo se tornou ainda mais fácil (com as bibliotecas, os livros baratos, etc.).
Habituei-me a vários autores e sempre tive dificuldade em imaginar policiais em português. Também sempre tive curiosidade em saber como seriam.
Em Janeiro entrei na FNAC e encontrei o livro "Contos Policiais" numa das estantes. Coordenado por Pedro Sena-Lino, o livro apresenta nove pequenos contos escritos por outros tantos autores portugueses. Pensei ser uma óptima forma de ficar a conhecer nove autores alguns dos quais poderia depois querer explorar em versão "comprida".
Pois bem, acabei de ler o livro ontem (não, não o comecei a ler em Janeiro - lembram-se que ainda há pouco tempo tinha acabado de ler outro?) e resolvi partilhar aqui as minhas impressões.
Infelizmente não são muito positivas. O que eu gosto num policial é um texto fácil de ler e que permita ao leitor focar toda a sua atenção no enredo, nas pistas, nos problemas, etc.. O que encontrei neste livro foi uma séria de contos que pareciam esconder a falta de enredo com um estilo de escrita todo cheio de rócócós, difícil de acompanhar.
Alguns contos são daqueles que começam hoje, recuam para o ano passado, voltam para a frente, e para trás, e para a frente. A certa altura, eu que só queria descansar a cabeça, já estava é ainda mais cansada de tanto esforço fazer para acompanhar o fio da narração.
Outros contos, estão tão cheios de adjectivos e salamaleques que me dava quase logo vontade de os pôr de lado. É quase como se, para se ser escritor, se tivesse de usar (e abusar de) uma série de recursos estilísticos. É como se isso fosse o grande diferencial entre os bons e os maus escritores. É como se o que interessasse não fosse o conteúdo - fosse sermos diferentes.
Ainda assim, houve três contos que me deixaram um pouco mais esperançada na narrativa policial portuguesa: "o criminoso portuguesinho" de valter hugo mãe (mas porque é que o autor não pontua devidamente o seu texto e não utiliza letras maiúsculas como qualquer outra pessoa que tenha ido à escola e tenha aprendido os básicos da escrita?), "D. Quixote" de Rui Zink (para quê tantas quebras no texto?) e, especialmente, "A perdição do sorriso cromado" de Ricardo Miguel Gomes.
Penso que o único que me levaria a comprar um livro assinado por si seria este último. Infelizmente, uma pesquisa na Internet não oferece qualquer indicação de o autor ter escrito qualquer outro trabalho (comprido ou não). Posso ter pesquisado mal. Se assim for, alguém que me corrija.
27 julho 2009
"Contos Policiais" em português
07 julho 2009
Toalhas de casa-de-banho a condizer
Um dia destes comprámos uma cortina de chuveiro muito engraçada para o meu filho. Foi a IGGE do IKEA.
Os motivos são muito engraçados. O meu filho adora os animais e eu também confesso que adoro o ar caricaturesco e colorido dos animais.
Resolvi então aproveitar os motivos para bordar umas toalhas de casa-de-banho a condizer.
Utilizando papel vegetal que sobrepus ao cortinado, tracei os animais a lápis de carvão. De seguida, virei o papel ao contrário e coloquei por cima da tira de quadrilé virada do avesso. Passei com o lápis por cima dos riscos que tinha feito do outro lado e o carvão passou para o tecido (dado que estávamos a riscar com o papel e o tecido do avesso, os animais ficaram na mesma posição em que estam na cortina). Depois foi só bordar usando uns restos de linha colorida, nº 8 e nº 12, que tinha cá em casa.
Consegui que os animais ficassem na toalha com exactamente o mesmo tamanho que têm na cortina. Utilizei uns animais mais "baixas" na toalha de maõs onde bordei numa tira de quadrilé de 6cm, e na toalha de banho utilizei uma tira de 7,5cm pelo que pude optar por uns animais maiorzinhos.
Fiquei contente com o resultado e o meu filho adorou, apesar de não perceber porque é que não consegue encontrar nos animais todos os tipos de animais que encontra na cortina :-)
Raposas no Parque - pós leitura
Escrevi aqui recentemente sobre o livro "Há Raposas no Parque" de Clara Macedo Cabral. Na altura ainda só tinha lido alguns capítulos. Agora, que já terminei o livro, posso falar um pouco mais.
O livro é aquilo que a capa promete que seja: um relato da vida em Londres entre 2007 e 2009. O relato de uma mãe, de uma portuguesa, de uma mulher, de uma cidadã. As várias perspectivas conjugando-se e competindo, numa sequência de capítulos que vão abordando vários aspectos do quotidiano, da cultura, da política e da sociedade londrinas.
Confesso que esperava ler um pouco mais sobre a experiência de estar grávida, ter um bebé e superar os primeiros meses de vida do bebé em Londres. Talvez por ter passado recentemente por essa experiência e ter pena de eu própria não ter documentado esses momentos: as consultas, os exames, a preparação para o parto, a escolha da maternidade, o parto, o apoio domiciliário prestado após o parto, etc..
Por outro lado, li muito mais sobre política, economia e a sociedade do que contava. Foi uma agradável surpresa e acabei por aprender muitas coisas que por preguiça ou falta de oportunidade, nunca me foi dado aperceber. É especialmente nestes aspectos que vem ao de cima a formação da autora, que empresta um olho crítico e conhecedor a muitos dos aspectos que tanto marcam a vida em Londres.
Uma das coisas mais interessantes do livro é a forma como lemos sobre as perspectivas tão pessoais da autora sem ficarmos a saber muito sobre ela, sobre a sua família, a sua ocupação, etc.. É um relato pessoal sobre a cidade. E se, por um lado tenho pena de não ter ficado a saber mais sobre ela (confesso o meu lado de "cusca"), por outro lado admiro a forma como Clara conseguiu escrever um livro tão pessoal sem ser sobre si.
Como disse no outro post, no início não estava a gostar muito do estilo de escrita da autora. No entanto, pareceu-me que o estilo de escrita foi mudando com o passar dos meses, tornando-se mais fluido, menos formal, menos pensado (a forma como é escrito, não o conteúdo). E, por essa razão, ou porque me fui habituando ao estilo de escrita da autora, gostei bastante mais dos últimos capítulos.
Palavras finais: valeu bem a pena comprar e ler este livro, e ando já a pensar que outros portugueses é que eu conheço em Londres que possam gostar de ler este livro.
(A foto, tirada por mim em Londres a 26 de Abril 2008, mostra que não só há raposas como também há gansos no parque. Uma das surpresas de Londres sobre a qual já aqui escrevi.)