27 julho 2009

"Contos Policiais" em português

Sempre fui uma ávida leitora de policiais. Comecei com Agatha Christie, no original, para praticar o meu inglês. Tornei-me sócia da biblioteca da British Council para poder continuar a ler os autores de que gostava nas suas versões originais. Depois, com a mudança para Londres, tudo se tornou ainda mais fácil (com as bibliotecas, os livros baratos, etc.).

Habituei-me a vários autores e sempre tive dificuldade em imaginar policiais em português. Também sempre tive curiosidade em saber como seriam.

Em Janeiro entrei na FNAC e encontrei o livro "Contos Policiais" numa das estantes. Coordenado por Pedro Sena-Lino, o livro apresenta nove pequenos contos escritos por outros tantos autores portugueses. Pensei ser uma óptima forma de ficar a conhecer nove autores alguns dos quais poderia depois querer explorar em versão "comprida".

Pois bem, acabei de ler o livro ontem (não, não o comecei a ler em Janeiro - lembram-se que ainda há pouco tempo tinha acabado de ler outro?) e resolvi partilhar aqui as minhas impressões.

Infelizmente não são muito positivas. O que eu gosto num policial é um texto fácil de ler e que permita ao leitor focar toda a sua atenção no enredo, nas pistas, nos problemas, etc.. O que encontrei neste livro foi uma séria de contos que pareciam esconder a falta de enredo com um estilo de escrita todo cheio de rócócós, difícil de acompanhar.

Alguns contos são daqueles que começam hoje, recuam para o ano passado, voltam para a frente, e para trás, e para a frente. A certa altura, eu que só queria descansar a cabeça, já estava é ainda mais cansada de tanto esforço fazer para acompanhar o fio da narração.

Outros contos, estão tão cheios de adjectivos e salamaleques que me dava quase logo vontade de os pôr de lado. É quase como se, para se ser escritor, se tivesse de usar (e abusar de) uma série de recursos estilísticos. É como se isso fosse o grande diferencial entre os bons e os maus escritores. É como se o que interessasse não fosse o conteúdo - fosse sermos diferentes.

Ainda assim, houve três contos que me deixaram um pouco mais esperançada na narrativa policial portuguesa: "o criminoso portuguesinho" de valter hugo mãe (mas porque é que o autor não pontua devidamente o seu texto e não utiliza letras maiúsculas como qualquer outra pessoa que tenha ido à escola e tenha aprendido os básicos da escrita?), "D. Quixote" de Rui Zink (para quê tantas quebras no texto?) e, especialmente, "A perdição do sorriso cromado" de Ricardo Miguel Gomes.

Penso que o único que me levaria a comprar um livro assinado por si seria este último. Infelizmente, uma pesquisa na Internet não oferece qualquer indicação de o autor ter escrito qualquer outro trabalho (comprido ou não). Posso ter pesquisado mal. Se assim for, alguém que me corrija.

07 julho 2009

Toalhas de casa-de-banho a condizer

Um dia destes comprámos uma cortina de chuveiro muito engraçada para o meu filho. Foi a IGGE do IKEA.

Os motivos são muito engraçados. O meu filho adora os animais e eu também confesso que adoro o ar caricaturesco e colorido dos animais.

Resolvi então aproveitar os motivos para bordar umas toalhas de casa-de-banho a condizer.

Utilizando papel vegetal que sobrepus ao cortinado, tracei os animais a lápis de carvão. De seguida, virei o papel ao contrário e coloquei por cima da tira de quadrilé virada do avesso. Passei com o lápis por cima dos riscos que tinha feito do outro lado e o carvão passou para o tecido (dado que estávamos a riscar com o papel e o tecido do avesso, os animais ficaram na mesma posição em que estam na cortina). Depois foi só bordar usando uns restos de linha colorida, nº 8 e nº 12, que tinha cá em casa.

Consegui que os animais ficassem na toalha com exactamente o mesmo tamanho que têm na cortina. Utilizei uns animais mais "baixas" na toalha de maõs onde bordei numa tira de quadrilé de 6cm, e na toalha de banho utilizei uma tira de 7,5cm pelo que pude optar por uns animais maiorzinhos.

Fiquei contente com o resultado e o meu filho adorou, apesar de não perceber porque é que não consegue encontrar nos animais todos os tipos de animais que encontra na cortina :-)

Bath towels

Raposas no Parque - pós leitura

Escrevi aqui recentemente sobre o livro "Há Raposas no Parque" de Clara Macedo Cabral. Na altura ainda só tinha lido alguns capítulos. Agora, que já terminei o livro, posso falar um pouco mais.

Geese near Tower BridgeO livro é aquilo que a capa promete que seja: um relato da vida em Londres entre 2007 e 2009. O relato de uma mãe, de uma portuguesa, de uma mulher, de uma cidadã. As várias perspectivas conjugando-se e competindo, numa sequência de capítulos que vão abordando vários aspectos do quotidiano, da cultura, da política e da sociedade londrinas.

Confesso que esperava ler um pouco mais sobre a experiência de estar grávida, ter um bebé e superar os primeiros meses de vida do bebé em Londres. Talvez por ter passado recentemente por essa experiência e ter pena de eu própria não ter documentado esses momentos: as consultas, os exames, a preparação para o parto, a escolha da maternidade, o parto, o apoio domiciliário prestado após o parto, etc..

Por outro lado, li muito mais sobre política, economia e a sociedade do que contava. Foi uma agradável surpresa e acabei por aprender muitas coisas que por preguiça ou falta de oportunidade, nunca me foi dado aperceber. É especialmente nestes aspectos que vem ao de cima a formação da autora, que empresta um olho crítico e conhecedor a muitos dos aspectos que tanto marcam a vida em Londres.

Uma das coisas mais interessantes do livro é a forma como lemos sobre as perspectivas tão pessoais da autora sem ficarmos a saber muito sobre ela, sobre a sua família, a sua ocupação, etc.. É um relato pessoal sobre a cidade. E se, por um lado tenho pena de não ter ficado a saber mais sobre ela (confesso o meu lado de "cusca"), por outro lado admiro a forma como Clara conseguiu escrever um livro tão pessoal sem ser sobre si.

Como disse no outro post, no início não estava a gostar muito do estilo de escrita da autora. No entanto, pareceu-me que o estilo de escrita foi mudando com o passar dos meses, tornando-se mais fluido, menos formal, menos pensado (a forma como é escrito, não o conteúdo). E, por essa razão, ou porque me fui habituando ao estilo de escrita da autora, gostei bastante mais dos últimos capítulos.

Palavras finais: valeu bem a pena comprar e ler este livro, e ando já a pensar que outros portugueses é que eu conheço em Londres que possam gostar de ler este livro.

(A foto, tirada por mim em Londres a 26 de Abril 2008, mostra que não só há raposas como também há gansos no parque. Uma das surpresas de Londres sobre a qual já aqui escrevi.)